domingo, junho 28, 2009

Entrevista com S. Pedro!




«Senhor, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem!»
Era imperioso ouvi-lo. O seu capital de prestígio aureolado por uma experiência a que o tempo foi carregando de sabedoria, é motivo não despiciendo para uma entrevista. Vai daí...
R. de B. _S. Pedro, que pensais desta pomposa festa que vos fazem na Póvoa!?
S. Pedro__Olha rouxinol__disse ele cofiando a barba e olhando para o céu carregado de nuvens negras...__isto não passa de uma manobra branqueadora de imagens. Eu sou um mero pretexto. Não me diz respeito, é mundana demais...
Isto que aqui se vê é um festa ao «bezerro de ouro» da câmara e aos seus acólitos.
RB__Mas... e as referências elogiosas que vos fazem, não vos enchem o ego?!
S. Pedro__ Eu estou cá como o Camões, enquanto foi vivo não lhe ligavam patavina, agora é só homenagens e mais homenagens. Camilo, o incisivo Camilo, já dizia «foge cão que te fazem barão!»... a mim, puseram o meu nome no hospital, nem sei porque motivo, será para melhor pescarem doentes? Só se for...
RB__ Tudo em homenagem ao teu papel de «pedra basilar» da Igreja. Não foi debalde que Cristo disse: «Pedro, és a pedra sobre a qual assentará a minha Igreja!»
S. Pedro: Não foi de balde não, mas de martelo numa mão e pedra na outra. Eu, pedra, já tenho servido para muita coisa. Pedra angular para suportar o edifício de safadezas que anda por aí!... Eu bem o vejo, sinto e ouço!...
R.B._Mas, que edifício é esse, S. Pedro?
S.Pedro__ Não sabes, rouxinol? Depois do famoso «caso Dourado», com aquela «promoção» para a Varzim Lazer, há o não menos famoso «mardebeiriz», há o fiasco daquela máquina de energia das ondas na Aguçadoura que anda a aguçar a curiosidade de muita gente. Esta é muito parecida com a tal ETAR virtual que afinal nunca existiu!... Isto é um mar de promiscuidades sem conta! Irra!!!
R.B.__Vós estais muito documentado, S. Pedro, como conseguistes essas informações tão pouco divulgadas pelo comum dos cidadãos?
S. Pedro__É que eu ouço o bramir do vento, eu ouço a sua voz tremendista a clamar por mudança, eu sinto a raiva que vai dentro dele, a sua ânsia de purificação, o seu apelo à verdade, ao bom senso, a sua ira contra a hipocrisia, a ostentação, a vaidade... Essa procissão não passa de uma feira de vaidades mundanas sem espiritualidade, sem fé, sem devoção! Só falta irem de mãos nos bolsos!!!Como já vi o presidente fazer, numa falta de respeito incrível!
R.B.__Mas, S. Pedro, será que o povo não escuta o vento? Será que o povo está surdo? A voz do vento não se identifica com a voz do povo?
S. Pedro__ Perante certos rebanhos abúlicos, acríticos e acéfalos, correndo atrás de pastores sem craveira, às vezes pergunto a mim próprio onde está o verdadeiro povo da Póvoa de Varzim, o povo lúcido, o povo atento, o tal povo que é quem mais ordena?! Será que sumiu? Como eu gostava de ouvir a sua voz, não debitando ladainhas e padre-nossos, mas clamando alto e bom som contra o mal-estar reinante nesta Póvoa que deixou de ser do peixe miúdo e passou para os tubarões, essa fauna marítima que tudo devora, tudo leva atrás de si deixando os peixinhos à nora!...

2 comentários:

Márcio Vandré disse...

O povo se perdeu na massificação.
Hoje são néscios aguardando a hora que a Sra. Dona Morte irá lhes ceifar a vida. Pois de nada acrescentarão a esta terra que pisam.
Se tiver sorte, ainda aproveitarão o corpo exânime para ser feito adubo.
A semente cresce.
Quem sabe um novo amanhecer.

Obrigado pelo comentário no blog.
Até mais ver!

José Leite disse...

Márcio:

Você tem visão um tanto pessimista da vida, mas reconheço-lhe montes de realismo.
De facto somos «pó» e «em pó nos transformaremos»... contudo, daqui até lá, saibamos sacudir o pó do marasmo e construámos uma sociedade mais justa onde deixe de haver tanta exploração!