sexta-feira, fevereiro 29, 2008

O dilema do BCE





Enquanto a Reserva Federal aposta na descida da taxa de juro em ordem a revitalizar a economia, o BCE, expectante mas receoso de tensões inflacionistas (o preço do petróleo continua em alta preocupante) continua a manter a mesma taxa, muito embora haja pressões para a baixar face à valorização excessiva do euro, colocando empecilhos às exportações para mercados onde o dólar também entra em competição; a economia portuguesa mais virada para exportações internas (zona euro) também sofrerá pois diminuindo as exportações nos países-locomotiva, nós sofreremos por arrastamento, pois, sendo país periférico não seremos tão solicitados nesse sentido.


A economia chinesa e indiana (sobretudo) continuam a pressionar a subida do petróleo graças aos consumos cada vez maiores que vão exibindo, numa espiral preocupante. Poder-se-á dizer que o preço do petróleo (em subida) está «amortecido» pela subida do euro. Contudo, tal situação poderá ter reflexos negativos se a queda das exportações for acentuada.


A economia portuguesa (economia aberta, dependente da evolução das economias «centrais»), muito periférica e pouco competitiva (já esteve pior) corre sérios riscos.


As «deslocalizações» provocam uma subida no desemprego, quiçá «camuflada» pelo forte surto emigratório que se faz sentir cada vez mais. Há que olhar para o turismo como sector para o qual estamos vocacionados por excelência.


Por que não incentivar o golfe? Facilitando o surgimento de plataformas dinâmicas capazes de serem âncoras para um empreendedorismo multifacetado?


Por que não fazer um maior investimento em termos de marketing além-fronteiras? O nosso sol, os nossos costumes, a nossa gastronomia, são só por si factores de atracção não despiciendos.


Com uma economia estagnada (ou a crescer muito pouco) temos a construção civil a precisar de um empurrão forte: é um sector-alavanca que gera, quer a montante quer a jusante, uma multiplicidade de riquezas que não deverão deixar de merecer a atenção de quem governa.


Baixar impostos poderá não ser de todo impensável, muito embora se reconheça que há dificuldades em relação ao défice, há a possibilidade de com medidas bem coordenadas, criar um efeito propulsor no investimento que possa gerar mais receitas apesar do grau de incidência fiscal mais reduzido.


O país precisa de saír do marasmo. As empresas podem ser as principais vítimas deste neoliberalismo selvagem. A supervisão do Estado poderá ter o condão de fazer saír do atoleiro alguns sectores. o Estado não deve ser «desmantelado», deve, isso sim, ser redimensionado e racionalizado em ordem a cumprir de forma mais eficaz e com menos custos a sua missão.
Os mercados, de per si, não são a solução final. Há que usar medidas que possam minorar os efeitos nefastos de uma acção desregrada dos mercados.
O governo tem que estar atento a uma nova conjuntura externa que se vislumbra no horizonte próximo. As eleições americanas costumam trazer turbulências e, porventura, algumas vantagens potenciais para quem estiver atento.
As energias renováveis são aposta que deverá ter reflexos a médio prazo. Portugal, muito embora no bom caminho neste domínio, haverá de reconhecer que, no curto prazo, ainda é cedo para colher frutos. Assim, há que repensar o modelo seguido até aqui e tentar o «choque fiscal» agora, pois se o fizer daqui a uns meses, poderão dizer que é oportunismo eleitoralista, o alargar o cinto agora é medida a não desprezar. Se não for feito, poderão ser acusados de serem os governantes da oportunidade perdida. Sem perder o norte, há que ganhar a noção do sentido da oportunidade estratégica.
Oxalá José Sócrates tenha bons conselheiros nesta matéria. Para mim, que não tenho preferências partidárias, o mais importante é que o país vença. A oportunidade pode ser perdida por falta de visão estratégica, por amorfismo, por tibieza.













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